SEVERINO BEZERRA DE MELO nasceu em 20 de maio de 1888, filho de João
Bezerra de Melo e Idalina Bezerra de Melo, natural de Nazaré da Mata, em
Pernambuco. Severino Bezerra era o segundo filho do casal, possuindo oito
irmãos. Em 1904, seu pai decidiu vir trabalhar como tesoureiro na Companhia
Construtora da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, para tal,
mudaram-se para Natal/RN.
Em 1908, Severino iniciou sua trajetória educacional no Rio
Grande do Norte, quando, aos 16 anos de idade, ingressou na primeira turma da
Escola Normal de Natal, que funcionava nas instalações do Ateneu Norte Rio Grandense.
Em 1910, a primeira turma da Escola Normal foi diplomada, quando se formaram 7
professores e 20 professoras, dentre eles, Severino Bezerra.
Decidiu dedicar-se à arte da docência indo estudar na Escola
Normal de Natal, onde fez parte da primeira turma de formandos, em 04 de
dezembro de 1910. Nessa turma, formaram-se, segundo Morais:
Durante a cerimônia de colação da turma, Severino noivou com
sua colega de classe, a professora Judith de Castro Barbosa (Figura 1). No
mesmo ano, em 26 de dezembro, os professores Severino e Judith se uniram em
casamento, ambos nomeados, com emprego garantido em outra cidade.
Segundo Nascimento (2008), após a diplomação, os professores
formados poderiam lecionar nos cursos primários públicos e privados, para tal,
deveriam ser credenciados.
Na época, o professor Severino e a sua turma presenciaram
ambientes contrastantes, com o atraso no desenvolvimento da região devido à
falta de transporte e luz elétrica, além das rivalidades entre os residentes do
bairro da Cidade Alta e da Ribeira, Canguleiros e Xarias. Porém, em
contraponto, a vida espiritual e intelectual estava em pleno vapor, contando
com associações literárias, jornais, revistas e reuniões sociais, como
demonstra o professor Severino Bezerra, em comemoração ao cinquentenário da
instalação da Escola Normal, quando escreveu sobre o acontecimento no jornal A
República:
A partir do exposto, podemos verificar a trajetória de
Severino Bezerra primeiramente como aluno da Escola normal, para, em seguida,
observar suas atuações como professor e Intelectual do campo educacional do
estado.
DE NORMALISTA À PROFESSOR PÚBLICO
Ainda na cerimônia de formatura, em 1910, o Governador
Alberto Maranhão fez a entrega os diplomas e anéis de formatura para os alunos.
Dalí, os alunos também já saem nomeados: grupos escolares de várias cidades do
estado aguardavam os recém-formados da Escola Normal de Natal para assumir seus
postos como professores e diretores
Formado, Severino Bezerra começou a atuar como professor em
1911, quando mudou-se para São José de Mipibu com sua esposa, agora chama de
Judith Bezerra de Melo. O casal mudou-se para assumir o novo Grupo Escolar
Barão de Mipibu, onde o professor Severino assumiu a direção e a professora
Judith, as salas de aula. Ali permaneceram até 1922, constituindo sua família,
onde tiverem oito dos seus doze filhos: Maria Júlia, 1911; Lygia,
1912; Creso, 1914; Maria, 1915; Mirtes, 1916; Túlio,
1918; Mário, 1919; e Geraldo, 1920. Também sepultaram dois desses,
Maria Júlia e Mário
Posteriormente, obtiveram transferência para Natal, onde
iriam lecionar no Grupo Escolar Frei Miguelinho, criado em 1913. Sendo assim,
em 1921, voltaram a residir na capital, onde tiveram mais quatro filhos:
Creuza, 1922; Yara, 1923; Nany, 1925; e Marta em 1927.
Em 1924, Severino Bezerra foi nomeado Juiz Substituto
Federal, como mostra o fragmento retirado da revista Correio da Manhã (RJ):
Como atuante na educação do Rio Grande do Norte e com a
necessidade de aumentar sua renda, em 1926, Severino Bezerra passou em concurso
público para professor de Instrução Moral e Cívica no Ateneu NorteRioGrandense.
O professor foi aprovado com duas teses, intituladas “Instrução Cívica
o voto” e “Moral Prática a família: constituição social e
autoridade”. A sua nomeação foi publicada nas Mensagens do Governador do Rio
Grande do Norte para a Assembleia (RN) em 1926, disponíveis na Hemeroteca
Digital (2020): “Houve 3 concursos para Portuguez, Philosophia e Instrucção
Moral e Civica, sendo nomeados os srs. Israel Nazareno de Souza, Padre João da
Matha Paiva e Severino Bezerra de Mello, para essas cadeiras”.
Posteriormente, lecionou Geografia na Escola Normal de Natal
e dirigiu a Escola de Comércio de Natal, também lecionando na Escola Doméstica
de Natal e na Escola Feminina do Comércio.
Professor Severino Bezerra sempre almejou uma educação de
qualidade, em que os jovens teriam o hábito da leitura, falariam corretamente o
bom português e aprenderiam outras línguas. Além disso, deveriam aprender bons
modos para ter uma boa educação. Para ele, todos deveriam ter acesso a uma boa
formação, incluindo os filhos de seus amigos de interior, que não tinham onde
estudar. Desde quando se mudou para São José de Mipibu/RN, sonhava em construir
seu próprio colégio, onde não cobraria valores exorbitantes como a maioria dos
colégios internos de Natal, amenizando o problema de seus amigos interioranos.
Afinal, educação não era apenas um negócio para o professor Severino.
Conforme Sirinelli (1998), a história dos intelectuais situase
em uma encruzilhada entre o cultural e o político. Não é possível ainda
dissociarmos o intelectual da sociedade na qual está inserido, da qual é um
reflexo e que ajuda a construir. Barbosa (2000), em seu livro, relata a vida e
obra de Nany, uma das filhas de Severino Bezerra, narrando alguns dos anseios
de Severino e sua família:
Com ajuda do seu compadre, em 1927, o professor Severino
Bezerra fundou o Colégio Dom Pedro II, internato, semiinternato e externato. O
Colégio Pedro II estava localizado na antiga rua do Norte, em Natal/RN, ao lado
direito do Teatro Carlos Gomes, atual Teatro Alberto Maranhão.
A estrutura do colégio era um casarão, situado em uma chácara
entre mangueiras, local onde Severino residia com sua família. Para Cardoso
(2000), a construção do colégio veio a somar, proporcionando um alto padrão de
ensino e formando jovens que iriam ocupar as mais altas posições nos setores da
sociedade potiguar.
Antes da sua inauguração, o colégio já possuía alunos
matriculados nas três modalidades, advindos do curso particular do professor Severino
Bezerra. Além disso, alguns colegas de Severino do interior do estado, ao
saberem da criação do colégio pelo Intelectual, matricularam seus filhos e o
divulgaram aos seus conhecidos. A assim, no ano seguinte a sua inauguração, o
colégio já possuía 50 internos, vindos de cidades como: Goianinha, Caicó, Cearámirim,
Currais Novos, São José do Mipibu e PaudosFerros.
Inicialmente, o internato receberia apenas rapazes, porém,
pensando nos pais menos favorecidos, que não tinham como matricular suas filhas
em colégios caros como a Escola Doméstica ou a Escola de Freiras de Natal, o
professor Severino decidiu então abrir um internato também para meninas, apenas
algumas moças filhas de seus colegas, que conviviam no mesmo espaço que suas
filhas,
Severino Bezerra foi professor durante quarenta e cinco anos,
lecionando nos cursos ginasial, colegial e médio, se aposentando apenas em
1952. Ele faleceu aos 82 anos, em 25 de fevereiro de 1971.
Em vida, foi sócio efetivo do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), instituição que viria a reconhecer
sua importância, homenageandoo no centenário de seu nascimento. Sirinelli
(1998) nos auxilia a compreender que as elites culturais não estão separadas da
sociedade e sim ligadas a ela. Sobre isso, o autor salienta que:
O meio intelectual não é um simples camaleão que toma
espontaneamente as cores ideológicas do seu tempo. Concorre, pelo contrário,
para colorir o seu ambiente. Os letrados raciocinam de maneira endógena, mas o
ruído de seus pensamentos ressoa no exterior. É afinal o que dá a sua
especificidade à “alta intelligentsia”: dela participam os que possuem, a um ou
outro título, poder de ressonância (SIRINELLI, 1998, p. 265).
FONTE - ANA TEREZA DOS SANTOS ARAÚJO* MARIA
INÊS SUCUPIRA STAMATTO (DRA.)** OLÍVIA MORAIS DE MEDEIROS NETA
(DRA.)